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quinta-feira, 8 de julho de 2010

POBRE, MAS LIMPINHO!

Tenho acompanhado diretamente a história do Underground nacional e até parte do internacional. Vejo diferenças fortes no contexto geral deste meio de vida, musical e ideológico. Isso através de correspondência, Internet, conversando com amigos de bandas que já tocaram pela Europa e em países de outros continentes. Assim formando em mim vários pensamentos comparativos entre um cenário e outro.
Ser e estar no Underground para algumas pessoas soa como sujo, podrão, mal feito, e feito na cara e na coragem, no peito e na raça. Quanto a esta garra para fazer os eventos e demais articulações, nada mais louvável. Tem que ter “sangue nuzóio” mesmo pra encarar tantas dificuldades, como falta de apoio, compreensão e investimentos para uma cena praticamente inexistente aos olhos de quem “está por cima”, assim por dizer.
Porém sempre defendi que para se conseguir algo, temos que ter credibilidade, mostrar profissionalismo e seriedade. Nada de molecagem, de grupinhos para procurar patrocínios no comércio de sua cidade.
Quando falo em patrocínios com pessoas que agilizam eventos, todos dizem que é difícil, outros até que é impossível conseguir algum apoio na cidade onde moram, pois todo mundo só vê o meio Underground como um monte de maloqueiros desocupados e fedorentos. Mas será que não é esta a imagem que estamos passando para as outras pessoas? Devemos nos perguntar sobre isso!
Não é necessário se travestir para conseguir as coisas. Eu mesmo organizei alguns eventos na cidade de Cambuí, sul de Minas Gerais, e fui procurar patrocínios e apoios usando minhas camisetas de bandas mesmo. Mas sempre tive a preocupação em me mostrar um cara responsável, que estou lutando para trazer algo interessante para a cidade e sua juventude sem opções de diversão. E sempre consegui, mesmo numa cidade onde a cultura de não querer o Rock nas suas ruas e casas.
O cenário Underground no Brasil não está preparado para andar com os próprios pés porque nem as pessoas que o compõem tomaram consciência de onde estão e que sua ajuda e apoio são essenciais para que os eventos continuem acontecendo.
Veja na Europa. Conversando com amigos de várias bandas que por lá tocaram, vi que a realidade de lá é completamente diferente. Há o interesse por parte de todos para que os locais, ditos “picos”, continuem desenvolvendo suas atividades e sem a necessidade de buscarem incentivos alheios. Ou seja, as pessoas que vão aos shows, mostras, e afins fazem questão de pagar o ingresso para que este dinheiro entre nos caixas da casa para que novos eventos se desenvolvam frequentemente. É o pensamento de que sem este lugar, eu não tenho pra onde ir. Aqui é legal, porque vou querer que isso acabe? Então vou apoiar.
Nos vídeos gravados às vezes em pubs podrões, para um público estimado de umas 100 a 200 pessoas, podemos ver a estrutura bem superior à encontrada em muitos eventos até de nível médio em nosso país. É normal vermos bandas sem nenhuma expressão tocar com instrumentos de grandes marcas, como Jackson, BC Rich, Gibson, Pearl, Tama, Yamaha. As caixas amplificadas quase sempre são Marshal. E como conseguem isso? Com o apoio mútuo, comprometimento com suas causas. Tudo bem que o nível de vida lá é bem superior ao nosso. Os instrumentos são relativamente mais baratos, as coisas são aparentemente mais fáceis economicamente falando. Mas se não tiver interesse de nada vale isso tudo. Pois se pode ganhar mais e beber mais, se drogar mais, gastar mais dinheiros com bobagens inúteis!
Quantas vezes vi pessoas esbravejarem que um fulano quer ficar rico usando o nome do Underground. E estas mesmas pessoas não tomavam a iniciativa em pagar os ingressos dos shows, ficam nas portas das casas tomando pinga e fumando maconha. Enfim, preferem dar dinheiro às fábricas de cachaça e aos traficantes do que ajudar um pouquinho um evento feito com tanta raça, coragem e sangue nuzóio.
Tem que buscar apoios sim. Patrocínios. Levar pastas com materiais das bandas que se deseja trazer para o evento. Mostrar maturidade e comprometimento. Enquanto não houver uma cena propriamente dita, com um fluxo de dinheiro interno circulando, não há como continuar fazendo acontecer.

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