Pages

domingo, 19 de março de 2017

Entrevista The Evil


"66,6% originais...."

1 – A The Evil é uma banda nova, pelo que sabemos e acompanhamos. Quando iniciou sua existência?
Miss Aileen: 7/9/12, foi o primeiro ensaio e quando surgiu a música Silver Razor. A letra e melodia foram compostas pelo Iossif e na época éramos só nós 2. Nos conhecemos num evento de Metal, viramos a noite bebendo e, pela insistência de uma amiga, cantei um trecho de N.I.B. do Black Sabbath. O Iossif disse: cara, você é a vocalista do meu projeto. E foi mais ou menos assim que o The Evil nasceu em abril de 2012, mas a data precisa eu não me lembro.
Iossif: Sempre gostei de bandas com muito peso e com voz feminina. Acho o contraste de uma afinação baixa e com muito grave em cima de uma voz limpa e bem com melodias macabras uma junção perfeita para o DOOM. Assim estava a procura de uma mulher que tivesse atitude e competência para assumir essa missão.... Não queria uma deslumbrada que se preocupasse mais em  rebolar e fazer pose do que em CANTAR. Aí o mal conspirou para que eu encontrasse a Aileen que além de ter as qualidades que eu queria em uma vocalista para uma banda soturna como o THE EVIL ainda é uma figura única....

2 – Sua temática musical é bem simplista, o que notamos é refletida até nome da banda. Este detalhe é algo intencional ou ocorreu naturalmente?
Miss Aileen: O que seria simplista pra você? A imagem? Porque só nela há esse “simplismo”. Na verdade há muito nas entrelinhas. Contamos várias histórias, de assassinatos e assassinos, de maldade, perversão, psicopatia, envoltos em situações obscuras. Somos inspirados pelo “mal” que há no ser humano e é dele que retiramos nossas letras. Isso é algo natural.
Iossif: Simplista de cú é rola..... ..... Cara, não confunda, a proposta do THE EVIL não é simplista, é MINIMALISTA E OBJETIVA: SER A BANDA MAIS PESAAAAADDDAAAAAAA DO BRASIL.....   A realidade que vivemos é CRUA e RUDE. O mundo está apodrecendo na nossa cara. Principalmente no Brasil, o mal está espalhado e arraigado em todos os lugares e cantos da sociedade.... Na política, na religião, nas relações interpessoais,.... tudo está contaminado..... Não dá pra ficar cantando ou escrevendo músicas sobre fadas, duendes, flores e viagens astrais quando você tem que trancar a porta da sua casa com 3 cadeados para um filho da puta não arrombar e estuprar a sua família....  A realidade é brutal e não é nada “simples”.... e ela é principal inspiradora  da temática do THE EVIL.
(Nota: O "Simplista" é no sentido de ser um som cru, direto, sem firulas e frescurinhas) 

3 – Imagino que os membros da The Evil devam ter históricos com outras bandas. Sem citar nomes, uma vez que a discrição com seus reais nomes é algo claro, você pode nos falar sobre esta possível peculiaridade de cada um? Ou todos estão debutando em bandas?
Miss Aileen: Prefiro deixar no imaginário assim como nossas identidades. Somos personagens, criaturas que habitam as profundezas....
Iossif: Todos já bem calejados pela estrada e com ZERO romantismo com o “business” do Metal! O passado está morto e apodrecendo.....


4 – Há atualmente uma corrente bem contundente do retorno do Doom Metal com fortes influências de Black Sabbath. Vocês se encaixam neste cenário ou pensam que surgem com algo relativamente novo?
Iossif: Cara, o DOOM METAL nunca foi..... por isso não tem como retornar..... 
Ele sempre esteve presente no underground, que é onde ele pertence. Acho que Doom Metal não é música pra qualquer um.... assim como o Metal Extremo com bandas ultra rápidas como Flesh God Apocalyse e Nile que tem seu público fiel mas que nunca vão ser Mainstream. Eu creio que o DOOM METAL, principalmente do tipo que bandas como SLEEP, ELECTRIC WIZARD, ABYSMAL GRIEF, TONER LOW e o próprio  THE EVIL toca também é um tipo extremo de música: PESO EXTREMO!!! E tudo que é extremo não é mainstream por definição....
Mas sim, existem algumas bandas atuais que tem feito uma espécie de revival dos anos 70... algumas muito boas inclusive como o PURSON e o WITCHCRAFT que são mais comerciais mas com boa musicalidade.... Tem muito lixo sendo feito nessa onda também que em breve vão desaparecer nas areias do tempo....
Quanto à influência do SABBATH.... bem, se algo é METAL é filho do SABBATH!!!
O THE EVIL tem suas influências e/ou inspirações mas não é clone de ninguém.... Hoje em dia não existe a mínima chance de algo ser 100% original na música..... Nos contentamos se conseguirmos ser 66,6% originais....
Acho que estamos no caminho certo para isso pois temos percebido que nossos sons, principalmente os novos, tem uma espécie de DNA maligno que indica que é uma música nossa. Creio que estamos rapidamente definindo nossa identidade musical e visual. Quem ver os nossos shows e ouvir o primeiro CD eu acho que vai perceber isso....
Miss Aileen: Black Sabbath é nossa principal inspiração e não há como negar a influência. Mas, não querendo ser pretensiosa, estamos buscando criar algo novo.






5 – O cenário de Belo Horizonte sempre foi algo muito próprio no contexto nacional e até mundial, uma vez que várias pessoas comentam dos fatos por aqui ocorridos, sendo assim, você vê que as coisas no Underground por aqui conseguem caminhar de maneira independente com suas casas de eventos, as bandas lançando seus materiais e praticamente estes títulos esgotando com vendas e negociações em BH mesmo? Parafraseando... O que ocorre em BH, fica em BH?
Miss Aileen: Há bandas de BH que já estouraram pelo mundo todo. Não creio que o que é feito em BH vá ficar só em BH. Isso é algo bastante relativo, especialmente se falando em “cenário”, “underground”, “eventos”.
Iossif: A cena de BH já foi bem mais inflamada..... hoje em dia BH não é mais a capital do metal no Brasil como já foi.... mas acho que ainda existem muitas bandas fodas em BH, algumas novas como o PESTA e outras antigas meio Morto-Vivas como o SEX TRASH e o HOLOCAUSTO mas que ainda são muito boas de se ver....
Mas todo mundo sabe que essa geração atual é a geração download e youtube.... não tiram a bunda da cadeira do computador facilmente pra ir viver a vida real em um show de verdade.... Além disso, hoje em dia rolam 500 shows por mês e a grana da galera é escassa..... Por isso tentamos fazer um show bom e diferente pra ver justificar fazer valer a pena pra moçada que  comparece........
Também concordo com a Aileen.... o que rola em BH, se for bom, não fica só por aqui.... pelo contrário. Bandas inovadoras, boas e com algo a dizer podem surgir lá em Conceição do Mato Dentro que vão acabar sendo descobertas e ganhar o mundo....

6 – Como você vê a The Evil no atual cenário da música pesada em BH? Há um meio em comum para bandas e fãs?
Miss Aileen: The Evil é expressão da arte pela arte. Estamos na margem desse tal “cenário da música pesada”, apesar de fazer um som pesado, denso, com letras parafraseadas, porém bastante indigestas. Não somos melhores do que ninguém, mas pode ter certeza que muita gente deve estar nos julgando e apontando e fazer parte de um meio assim não é minha intenção e creio que não seja a dos outros membros também. Só somos a The Evil, só isso mesmo.
Iossif: Aileen já disse o que penso.

7 – Vocês lançaram recentemente um EP que teve até pouca divulgação em vista do que algumas bandas chegam a fazer às vezes até com a gravação de uma única música. Pode falar o porquê desta reserva quanto ao EP?
Miss Aileen: Não chegamos a lançar o EP. Nos preparamos pra isso, mas, resolvemos que queríamos fazer mais músicas.
Iossif: Não teve divulgação pois ainda não foi lançado..... hah hah ah hah..... Na verdade não será um EP, mas um CD full.... estamos concluindo as gravações....
Aqueles sons que você ouviu eram apenas um advance do apocalipse que virá em breve.....




8 – Estamos em março de 2017, como estão os planos para a gravação de um lançamento maior, como CD cheio ou até vinil?
Miss Aileen: Vamos com calma.
Iossif: Como eu disse o CD cheio sairá em breve.... estamos conversando com algumas gravadoras, todavia se tivermos que fazer concessão quanto à nossa proposta ou mesmo se acharem que podem tirar o nosso couro vamos produzir nós mesmos de forma independentemente.  Já lançamento em vinil vai depender das respostas de gravadoras gringas que estão em contato com a gente..... Fabricar vinil aqui no Brasil é caro demais e inviável.

9 – Sobre as letras, sobre que versam?
Miss Aileen: O mal que vive dentro do ser humano. O quanto o ser humano pode ser cruel e maligno, destruir, usurpar, matar, dentre diversas outras atrocidades e ter a capacidade de jogar a culpa no demônio ou outros seres sobrenaturais. O universo ocultista também faz parte da temática, com seres inimagináveis e outros que estão presentes nos tabus filosófico-religiosos.

10 – Já iniciaram as apresentações ao vivo, ou as recentes gravações tiveram prioridade para a The Evil? Há planos para turnê e tudo mais?
Miss Aileen: Fizemos apenas 2 apresentações em 2017. Por hora não fazemos qualquer plano, mas estamos abertos a convites.
Iossif: No momento concluir as gravações do CD é a prioridade. Mas se rolar shows, ótimo.


11 – Há material de divulgação, como camisetas e afins? Como adquirir?
Miss Aileen: Em breve teremos e basta entrar em contato com o perfil do Facebook da banda onde nós 4 temos acesso.
Iossif: Acessem esse Facebook aqui e fiquem sabendo do que está rolando com o THE EVIL: 

12 – A The Evil tem em sua apresentação a teatralidade, este pode ser um crescente com o passar do tempo, ou vão se prender ao o que já levam aos shows?
Iossif: Sim, é verdade. Somos todos fans dos mestres Alice Cooper e outros precursores desse  gênero de show em que o sujeito não sobe no palco com a mesma camisa engordurada do churrasco da tarde e vai tocar....... Creio que um show deve sempre ser uma experiência SONORA E VISUAL. Porém esse tipo de show é caro.... Mas conforme as coisas caminharem, O INFERNO É O LIMITE...
Miss Aileen: A teatralidade vai continuar presente no The Evil, pois é nela que podemos expressar um pouco mais de arte no palco.

13 – Agradeço o interesse e a responsa de fazer a primeira entrevista da The Evil. Caso tenham mais algo a comentar... fique à vontade, não se prenda!
Miss Aileen: Agradeço a oportunidade.
Tivemos muitas idas e vindas. Acabamos com o The Evil por diversas vezes, rolou uma rotatividade enorme de integrantes até chegar na formação atual. É difícil acreditar que conseguimos gravar e fazer shows, porque a banda realmente acabou várias vezes. Mas depois de quase 5 anos de idas e vindas, está aí nosso som. Agradeço especialmente ao Black Sabbath, ao mal presente na “entidade” ser humano e às “forças” que nos ajudaram a chegar até aqui.
Stay Doom! /,,/

Iossif: Nada mais a declarar.

"O INFERNO É O LIMITE..." 

quarta-feira, 8 de abril de 2015


Entrevista exclusiva com a banda mineira Certo Porcos!, através de seu guitarrista e vocalista Rodrigo. Com um grande histórico na cena do Metal de Minas Gerais e até mundial, Rodrigo nos conta detalhes de seu novo trabalho, e revela em primeira mão o próximo lançamento, um split 10" com a belga Agathocles.

1 – Quando surgiu a Certo Porcos!?
Rodrigo - Na verdade somos amigos de longa data e nos conhecemos desde a infância/adolescência... os caras já tocavam juntos há tempos e quando foi em 2009 comecei a tocar guitarra com eles, primeiramente só covers de Olho Seco, Ratos de Porão, Discharge, Spermbirds, depois começamos a compor também. Era como uma pelada de fim de semana, nos reuníamos pra tocar e beber, então a banda foi tomando forma e em 2011 começamos a tocar ao vivo e a gravar. A brincadeira ficou séria e desde então estamos aí tocando e produzindo música barulhenta.
2 – Porque este nome?
Rodrigo - Tentamos alguns nomes como AK-47 e Necrochorume mas já haviam bandas homônimas então colocamos Certo Porcos que é uma expressão que falamos entre nós, não tem significado específico e com certeza não tem ninguém com essa porra de nome!!!
3 – Os membros da Certo Porcos! tocam ou tocaram em outras bandas e quais?
Rodrigo - Minha trajetória começou em 84 com o Holocausto, primeiro como vocalista na demo Massacre em 85, na coletânea Warfare Noise em 86 e no LP Campo de Extermínio em 87, depois como baterista nos discos seguintes: Blocked Minds 88, Negatives 91 e Tozago as Deismno em 94. Em 95 encerramos as atividades e entre 96 e 2006 toquei no pexbaA, uma banda de antimúsica onde gravei 3 albuns, pexbaA I, pexbaA II e rique te pexbaA kita moo. Em 2006 remontei o Holocausto, gravei o álbum De Volta ao Front como baterista e vocalista. Então em 2009 o Holocausto parou novamente. Nessa época entrei para o Impurity onde participei da regravação da demo de 89, The Impurity Temple em 2010, o álbum Bonfim Moritvri Mortivis em 2011 e o split In the Blood em 2012. Em 2009 comecei a tocar guitarra com o Certo Porcos e gravamos uma demo em 2011, a coletânea BH Chaos em 2013 e o full-lenght (Ódio)666 em 2014. Tenho outro projeto de Raw Black Metal, com um amigo de Berlim chamado GGUW - Gegen Gravitation und Willensfreiheit (Contra a Gravidade e o Livre Arbítrio) lançamos um ep em 2011. Também participo como suporte bass nos shows do Bode Preto do Piauí. O Psycho Zé chegou a tocar ao vivo com o Impurity e o Lélio Metralha tocou com o Sepulchral Voice na década de 90 e está remontando a banda no momento.
4 – Como foram as gravações do CD “Ódio 666”? Onde gravaram o mesmo?
Rodrigo - Gravamos no estúdio Engenho em BH, do Andrevil “Cabelo”, guitarrista do Chakal e foi muito bom o trabalho com ele, pois o Cabelo além de ser um ótimo engenheiro de som, sabe muito bem como captar e tirar o som que voce deseja... isso é primordial quando o tempo é escasso, além do estúdio nos dar todo suporte necessário pra nos expressarmos da melhor maneira possível. Ficou foda a gravação, estamos muito satisfeitos com o resultado final.
5 – Fale-nos sobre o contrato com a Cogumelo Records.
Rodrigo - Trabalho com a Cogumelo há quase 30 anos e foi bem tranquilo o contrato com a gravadora. Tínhamos a possibilidade de lançar o cd em conjunto com outras gravadoras/distros ou totalmente independente mas achamos que através da Cogumelo, pela sua relevância e importância seria ótimo pra banda e tem sido muito boa a parceria até aqui.
6 – Como está a repercussão do CD e sua distribuição no Brasil e mundo?
Rodrigo - Ainda é cedo pra falar, mas o feedback que estamos tendo até o momento é o melhor possível. Sabemos das dificuldades do mercado, mas não temos a preocupação com a urgência. Vamos seguindo como bons mineiros, comendo pelas beiradas...
 7 – Como está a agenda de shows da banda? Tem planos de saírem em viagem pelo Brasil e até pelo mundo afora?
Rodrigo - Há uma dificuldade em tocar em BH, pois o circuito é pequeno e a maioria das casas de shows só abrem pra bandas cover, mas temos alguns shows programados na cidade. Esperamos conseguir tocar em outros lugares também divulgando nosso disco.
8 – Estão em trabalho para mais algum lançamento ou ainda estão na “ressaca” de Ódio 666?
Rodrigo - Novas composições estão sendo feitas, sou um cara atormentado, sonho com música e tenho que produzir pra poder continuar respirando... estamos trabalhando no momento na produção de um Split com o Agathocles para o segundo semestre desse ano... vai ser brutal!!!
9 – Qual o estilo que assumem e suas influências pessoais dentro da banda?
Rodrigo - Não nos prendemos a rótulos e estilos mas gostamos de vários tipos de música como rock, metal, punk, hardcore, crust, grind, além de música clássica e de vanguarda.
10 – Como você encara o cenário atual da música pesada em comparação com o de alguns anos atrás?
Rodrigo - Venho de um tempo onde não havia tanta fragmentação de estilos e consequentemente de público como hoje, vivemos numa ditadura da música pesada onde pastores vendem uma ideia de verdade absoluta e de fundamentalismo musical. Às vezes pode ser encarada como cena mesmo, teatral... muita pompa e pouca atitude. Na verdade estamos pouco nos fodendo pra esses tipos.

11- Como a Certos Porcos! se situa neste atual quadro? Notam algum tipo de dificuldades e também benefícios?
Rodrigo - É muito difícil por um lado justamente por essa fragmentação e radicalismo mas por outro lado as novas ferramentas possibilitam facilidade de produzir e propagar nossas músicas.
12 – Deixe uma última declaração, por favor!
Rodrigo - A mente é a maior das prisões. Então num mundo onde já nascemos escravos é muito importante não nos deixarmos acorrentar por preconceitos e falsas verdades!!!
Vida longa e liberdade!!!




sábado, 11 de outubro de 2014

Bar da Beta - Campina Grande/Pb - 1990


Uma vez um conhecido me falou: Charlie, galera como a nossa não surgirá mais, cara! Nós somos os últimos guerreiros a encarar tudo pela frente para realizar o que a gente queria e ainda quer fazer.
E é uma pura e grande verdade. A história que vou relatar aqui é uma prova disso. Pois  hoje em dia não se acha mais uma molecada disposta a montar suas bandas, arrumar locais undergrounds e improváveis para seus showzinhos, etc. Enfim, ter a velha e falada atitude. Não dizem que Rock'n'Roll é atitude?
Nos idos anos de 1990, na cidade de Campina Grande, Paraíba, um grupo de amigos, formadores de bandas, editores de fanzines, bebedores de cachaça na Praça Clementino Procópio e no Bar do Guarabira (ou Bar Guabiraba), viviam de produzir seus meios de se mostrarem ativos no meio underground da cidade. Chegou a um ponto que praticamente todo mundo desta galera tinha banda. Desta época surgiram nomes como: Nephastus, Diarrhea, Devastator, Interitus, CUSPE, Mortífera, Krueger, StomachalCorrosion, Abaddon, Ultra Violent, Insania, Lock Heed, Mind Grind, Caveira, Óstia Podre, Morbdus.
Com tanta produtividade sonora havia sempre a necessidade de arrumar lugares para que todo este pessoal se apresentasse. Alguns shows foram realizados em casas conhecidas, outros iam sendo debutados com shows das bandas de CG (Campina Grande) e das cidades vizinhas, como Caruaru, Recife, Natal, Fortaleza, Areia, João Pessoa, e outras.
Numa destas buscas por novos lugares, o fundador da banda Óstia Podre (é, é sem o H mesmo, Óstia... pra ser o mais podre possível), Aluízio Guimarães, teve contato com um lugar perto de uma serigrafia onde ele trabalhava, à Avenida Presidente Getúlio Vargas. Era um bar muito modesto, pequeno, simples demais mesmo. Alguns poderiam até classificá-lo como "copo sujo", mas não quero cometer esta injustiça.
O nome: Bar da Beta. Alusão óbvia à dona do recinto, uma senhora morena clara, cabelos curtos, gordinha e muito risonha. Aluízio ia ao Bar da Beta para fazer os lanches diários, tomar um refri e dar uma descansada do trampo na serigrafia. Numa destas ele pergunta à Beta o que tem além do corredor que levava ao banheiro, que ficava à esquerda de quem ia em direção ao corredor. Não tinha como uma pessoa que apenas frequentava a parte da frente do bar, saber o que havia ali, devido ao grande escuro que imperava além do corredorzinho, de uns dois metros de extensão apenas. A dona do bar responde que é apenas um depósito, onde ela deixava uns engradados de garrafas vazias e outras coisas do bar, mas que lá não tinha luz, e circulavam muitos ratos, baratas, aranhas e o que mais estivesse por ali.
Nosso amigo pediu permissão para dar uma olhada. Beta permitiu e, depois de trazer uma lanterna, Aluízio entrou no lugar. Era um ambiente de uns seis a sete metros de comprimento com uns quatro de largura. Adentrando até o final, ele percebe uma pequena elevação, como um degrau que levava a um tipo de quarto, com uma profundidade de uns três metros e os mesmos quatro de largura. O acesso a este pequeno quarto elevado, de uns cinquenta centímetros, havia uma pequena passagem do tamanho de uma porta, mas sem a mesma. O cheiro era forte de urina e poeira, mofo, e a umidade tomava conta do lugar. Não havia ponto de luz em lugar algum... Breu total, apenas aliviado pelo feixe de luz da lanterna.



Ao sair do lugar e voltar para a parte da frente do bar, Aluízio conversa com Beta sobre arrumar uma maneira de revitalizar o lugar. Se ela permitiria que ele e seus amigos (nós todos) transformassem o lugar em um espaço para pequenos shows das bandas da cidade. Todo material e mão de obra seria fornecido pelo pessoal das bandas e amigos, a dona do bar não gastaria e nem faria nada. Em troca ela teria um movimento muito bom de venda de bebidas e tira gostos nas noites de shows.
Ela relutou um pouco, afinal o ponto era alugado e o proprietário deveria ser consultado e tudo mais. Na conversa, Aluízio conseguiu convencer Beta de que não era preciso comunicar nada ao dono do lugar, afinal de contas nada seria mexido e o que seria feito era apenas uma reforma para melhor numa parte do lugar que não estava servindo pra nada, além de juntar poeira, ratos e umidade.
Assim, Beta permitiu que fosse sido feita a tal reforma no lugar. Aluízio convocou alguns amigos para ampliar a porta que dava acesso à parte elevada ao fundo, com a intenção de fazer ali o pequeno palco do ambiente. Então, às marretadas foi feito um tipo de arco, que começava no piso do elevado, de ponta a ponta. Com isso as bandas teriam maior visibilidade do público que fosse aos shows futuros.




Alguns dias foram gastos para a reforma. Um ponto de luz foi puxado até o palco, e lá espalhado para  dois cantos atrás da parede onde fora aberto o arco, para ali serem colocadas um sistema de iluminação do mais simplório e amador possível, composto por quatro latas de leite em pó, com bocais e lâmpadas, nas bocas das latas colocaram papel celofane colorido, cada lata com uma cor (amarelo, vermelho, azul). Ao fundo mais um ponto de  energia para que fosse ligada uma lâmpada fluorescente no chão, bem ao canto. O pensamento era o de fazer um pequeno sobre-palco para a bateria, e esta lâmpada iluminar o instrumento e o baterista de trás e de baixo pra cima e frente, dando um efeito interessante ao palco. As latas de leite em pó foram fixadas em pequenas ripas de madeira e estas pregadas na parede por dentro. Os fios que delas saiam seguiam até um painel com quatro interruptores, um para cada lata.


Na parte do salão não fora colocado nenhum ponto de luz, pois não havia como fazê-lo, o teto era de concreto puro, uma vez que em cima funcionava uma oficina na rua de traz, rua Arrojado Lisboa. O que os amigos que trabalharam na criação deste pequeno lugar pra shows fizeram nesta parte destinada ao público, foi pichar com spray preto alguns nomes de bandas de Metal e Punk nas paredes brancas, assim dando mais um toque rústico e underground ao lugar. Nomes como: Destruction, Slayer, Voivod, GHB, Kreator, Sepultura, Sarcófago, Metallica, e mais os nomes das bandas locais e da região.
Voltando ao palco, alguém trouxe de casa, não recordo quem, um tecido vermelho com uns três metros de comprimento e dois de largura. Este tecido foi pendurado na parede atrás de onde ficaria a bateria. Na sua parte interior instalaram uma lâmpada fluorescente de uns 200 Watts, o restante do pano vermelho cobria a lâmpada, e quando a mesma era acesa, dava uma tonalidade vermelha no fundo do pequeno palco, conforme haviam imaginado o grupo de visionários amigos.
O sobre-palco para a bateria foi colocado à frente do tecido, que era chamado de "cortina vermelha". Não me recordo a quem pertencia a bateria em si, mas ela foi levada por completo ao local e montada em caráter definitivo, para que todos pudessem usar.





Com o término das reformas no local, não tardou para que as bandas envolvidas na ação começassem a utilizar o local para seus ensaios durante os dias da semana, mesmo com o bar aberto. O que também fora marcado de imediato foi a inauguração do novo ambiente para apresentações, o “Calabouço”, ou apenas Bar da Beta. E na noite de 03 de novembro de 1990 aconteceu a primeira apresentação no lugar. O cartaz fora confeccionado pelo próprio Aluízio, e contou com as bandas locais Diarrhea, C.U.S.P.E. e Krueger. Foi uma invasão de pessoas curtidoras de música extrema de todos os bairros da cidade de Campina Grande. O lugar destinado para as apresentações ficou lotado, a venda no balcão do bar foi total. Como a própria Beta afirmou, “vendi tudo! Não tinha mais nada pra vender mesmo antes do meio dos shows dos meninos! Compraram tudo, cerveja, cachaça, rum, conhaque e tudo o que tinha de tira gostos! Acho que não me preparei bem pra receber esse povo!”.



Neste primeiro evento aconteceram algumas coisas engraçadas e peculiares, como durante a apresentação da Diarrhea, que o professor Romero estava gravando o show de frente da banda, ao fundo do lugar onde ficava o público. Dali era visto a banda no pequeno e improvisado palco e a movimentação frenética das pessoas que agitavam com tamanha vontade, que na gravação notava-se uma fumaça que encobria as cabeças das pessoas e pernas dos músicos da Diarrhea. O detalhe é que não havia máquina de fumaça no lugar, a tal fumaça não passava de poeira que era levantada do chão devido à loucura das pessoas que ali se divertiam e curtiam, cada um ao seu modo, o show da banda.
Outro fato inusitado foi a queda do baterista Alessandro Barros, Krueger, do banco da bateria durante a execução de uma de suas canções. O que gerou uma parada da música, uma curiosidade por parte do restante da banda e de quem se apertava à frente do palco, depois todos caíram na gargalhada, e o som seguiu.

Com o sucesso da primeira noite, Beta animou e topou seguir com os eventos em seu estabelecimento. Daí pra frente praticamente todo final de semana rolou alguma gig com bandas locais e até de cidades vizinhas, como na noite de 1º de dezembro de 1990, em que se apresentaram bandas de Recife (Devotos do Ódio e Realidade Encoberta) e Caruaru (Psychic Acid), além de uma local (Mortífera). Este foi, sem dúvida, o fest com maior aglomeração de pessoas.  Até um leão de chácara fora improvisado para tentar organizar a entrada e saída tanto de público, como das bandas. E o escolhido e até por livre e espontânea vontade, oferecido, fora o recifense Jorge Bulldog, que havia viajado junto com os grupos Realidade Encoberta e Devotos do Ódio. O ambiente onde haviam as apresentações e a aglomeração do público era cheio e esvaziado a cada apresentação, para que a banda pudesse sair do palco e pudesse guardas seus instrumentos e demais equipamentos em algum lugar, pois o palco era tão pequeno que não havia como deixar ali este material das bandas. Outro motivo que fora obrigatória a saída de todo o público entre os sets de cada banda era o calor insuportável que ali reinava durante cada banda. Era preciso deixar ventilar um pouco até a entrada da próxima banda da noite e do público, que também se revezava, uma vez que havia tanta gente no lugar e o mini salão de apresentações era tão pequeno, que as pessoas foram obrigas a escolher a que bandas assistir naquele evento.


 Vale lembrar que todas as pessoas, bandas e público, de Recife, se deslocaram de sua cidade natal até Campina Grande dentro do baú de um caminhão Mercedes Bens. Outro detalhe, e até chato desta vez, foi a insatisfação por parte dos membros da banda Devotos do Ódio com as pessoas locais, com o ambiente dos shows e tudo mais, o que gerou comentários negativos de quem havia comparecido para vê-los em especial. Mas, como o Bar da Beta já havia virado, tão rapidamente, um ponto de encontros das pessoas do meio Metal, Hard Core e Punk de Campina Grande (ou apenas, a Galera de CxGx), este assunto logo fora contornado por todos e as bebedeiras, conversas e tudo mais voltaram à normalidade e a referida banda recifense se isolou e fora isolada pelos presentes, devido justamente ao seu “azedume”.
 

 Mesmo com toda badalação da novidade na cidade e até da região, o Bar da Beta não durou muito como ponto para estas apresentações e encontros destas pessoas, que eram na realidade todos amigos e conhecidos, mesmo os de cidades distintas. O proprietário do local solicitou a saída da Beta e seu bar dali, visando uma reforma. Este evento de 1º de dezembro de 90 fora, curiosamente, o último. Pois no dia seguinte, domingo houve a retirada dos pertences tanto da Beta, quanto das bandas envolvidas no projeto, e na segunda feira seguinte o teto onde ficara o bar, com seu balcão, mesas, cadeiras, freezers e tudo mais, desabou devido ao estado deplorável das madeiras que sustentavam as telhas.
Até a data da edição e postagem deste texto o local segue abandonado, como ficou em 90. O que nos resta são as lembranças de toda esta aventura de força de vontade de fazer e acontecer. Foram tantas conversas, risadas, articulações, amizades feitas e outras firmadas naquele lugar, mesmo em tão pouco tempo, que o Calabouço, ou o Bar da Beta vive nas mentes de todos que por ali passaram, e o que faltava era um relado, como este, para deixar registrado a sua existência no contexto do Movimento Underground e da Galera de CxGx.
                                               Nos dias atuais: