Uma vez
um conhecido me falou: Charlie, galera como a nossa não surgirá mais, cara! Nós
somos os últimos guerreiros a encarar tudo pela frente para realizar o que a
gente queria e ainda quer fazer.
E é uma pura e grande verdade. A história que vou relatar aqui é uma prova disso. Pois hoje em dia não se acha mais uma molecada disposta a montar suas bandas, arrumar locais undergrounds e improváveis para seus showzinhos, etc. Enfim, ter a velha e falada atitude. Não dizem que Rock'n'Roll é atitude?
Nos idos anos de 1990, na cidade de Campina Grande, Paraíba, um grupo de amigos, formadores de bandas, editores de fanzines, bebedores de cachaça na Praça Clementino Procópio e no Bar do Guarabira (ou Bar Guabiraba), viviam de produzir seus meios de se mostrarem ativos no meio underground da cidade. Chegou a um ponto que praticamente todo mundo desta galera tinha banda. Desta época surgiram nomes como: Nephastus, Diarrhea, Devastator, Interitus, CUSPE, Mortífera, Krueger, StomachalCorrosion, Abaddon, Ultra Violent, Insania, Lock Heed, Mind Grind, Caveira, Óstia Podre, Morbdus.
Com tanta produtividade sonora havia sempre a necessidade de arrumar lugares para que todo este pessoal se apresentasse. Alguns shows foram realizados em casas conhecidas, outros iam sendo debutados com shows das bandas de CG (Campina Grande) e das cidades vizinhas, como Caruaru, Recife, Natal, Fortaleza, Areia, João Pessoa, e outras.
Numa destas buscas por novos lugares, o fundador da banda Óstia Podre (é, é sem o H mesmo, Óstia... pra ser o mais podre possível), Aluízio Guimarães, teve contato com um lugar perto de uma serigrafia onde ele trabalhava, à Avenida Presidente Getúlio Vargas. Era um bar muito modesto, pequeno, simples demais mesmo. Alguns poderiam até classificá-lo como "copo sujo", mas não quero cometer esta injustiça.
O nome: Bar da Beta. Alusão óbvia à dona do recinto, uma senhora morena clara, cabelos curtos, gordinha e muito risonha. Aluízio ia ao Bar da Beta para fazer os lanches diários, tomar um refri e dar uma descansada do trampo na serigrafia. Numa destas ele pergunta à Beta o que tem além do corredor que levava ao banheiro, que ficava à esquerda de quem ia em direção ao corredor. Não tinha como uma pessoa que apenas frequentava a parte da frente do bar, saber o que havia ali, devido ao grande escuro que imperava além do corredorzinho, de uns dois metros de extensão apenas. A dona do bar responde que é apenas um depósito, onde ela deixava uns engradados de garrafas vazias e outras coisas do bar, mas que lá não tinha luz, e circulavam muitos ratos, baratas, aranhas e o que mais estivesse por ali.
Nosso amigo pediu permissão para dar uma olhada. Beta permitiu e, depois de trazer uma lanterna, Aluízio entrou no lugar. Era um ambiente de uns seis a sete metros de comprimento com uns quatro de largura. Adentrando até o final, ele percebe uma pequena elevação, como um degrau que levava a um tipo de quarto, com uma profundidade de uns três metros e os mesmos quatro de largura. O acesso a este pequeno quarto elevado, de uns cinquenta centímetros, havia uma pequena passagem do tamanho de uma porta, mas sem a mesma. O cheiro era forte de urina e poeira, mofo, e a umidade tomava conta do lugar. Não havia ponto de luz em lugar algum... Breu total, apenas aliviado pelo feixe de luz da lanterna.
E é uma pura e grande verdade. A história que vou relatar aqui é uma prova disso. Pois hoje em dia não se acha mais uma molecada disposta a montar suas bandas, arrumar locais undergrounds e improváveis para seus showzinhos, etc. Enfim, ter a velha e falada atitude. Não dizem que Rock'n'Roll é atitude?
Nos idos anos de 1990, na cidade de Campina Grande, Paraíba, um grupo de amigos, formadores de bandas, editores de fanzines, bebedores de cachaça na Praça Clementino Procópio e no Bar do Guarabira (ou Bar Guabiraba), viviam de produzir seus meios de se mostrarem ativos no meio underground da cidade. Chegou a um ponto que praticamente todo mundo desta galera tinha banda. Desta época surgiram nomes como: Nephastus, Diarrhea, Devastator, Interitus, CUSPE, Mortífera, Krueger, StomachalCorrosion, Abaddon, Ultra Violent, Insania, Lock Heed, Mind Grind, Caveira, Óstia Podre, Morbdus.
Com tanta produtividade sonora havia sempre a necessidade de arrumar lugares para que todo este pessoal se apresentasse. Alguns shows foram realizados em casas conhecidas, outros iam sendo debutados com shows das bandas de CG (Campina Grande) e das cidades vizinhas, como Caruaru, Recife, Natal, Fortaleza, Areia, João Pessoa, e outras.
Numa destas buscas por novos lugares, o fundador da banda Óstia Podre (é, é sem o H mesmo, Óstia... pra ser o mais podre possível), Aluízio Guimarães, teve contato com um lugar perto de uma serigrafia onde ele trabalhava, à Avenida Presidente Getúlio Vargas. Era um bar muito modesto, pequeno, simples demais mesmo. Alguns poderiam até classificá-lo como "copo sujo", mas não quero cometer esta injustiça.
O nome: Bar da Beta. Alusão óbvia à dona do recinto, uma senhora morena clara, cabelos curtos, gordinha e muito risonha. Aluízio ia ao Bar da Beta para fazer os lanches diários, tomar um refri e dar uma descansada do trampo na serigrafia. Numa destas ele pergunta à Beta o que tem além do corredor que levava ao banheiro, que ficava à esquerda de quem ia em direção ao corredor. Não tinha como uma pessoa que apenas frequentava a parte da frente do bar, saber o que havia ali, devido ao grande escuro que imperava além do corredorzinho, de uns dois metros de extensão apenas. A dona do bar responde que é apenas um depósito, onde ela deixava uns engradados de garrafas vazias e outras coisas do bar, mas que lá não tinha luz, e circulavam muitos ratos, baratas, aranhas e o que mais estivesse por ali.
Nosso amigo pediu permissão para dar uma olhada. Beta permitiu e, depois de trazer uma lanterna, Aluízio entrou no lugar. Era um ambiente de uns seis a sete metros de comprimento com uns quatro de largura. Adentrando até o final, ele percebe uma pequena elevação, como um degrau que levava a um tipo de quarto, com uma profundidade de uns três metros e os mesmos quatro de largura. O acesso a este pequeno quarto elevado, de uns cinquenta centímetros, havia uma pequena passagem do tamanho de uma porta, mas sem a mesma. O cheiro era forte de urina e poeira, mofo, e a umidade tomava conta do lugar. Não havia ponto de luz em lugar algum... Breu total, apenas aliviado pelo feixe de luz da lanterna.
Ao sair
do lugar e voltar para a parte da frente do bar, Aluízio conversa com Beta
sobre arrumar uma maneira de revitalizar o lugar. Se ela permitiria que ele e
seus amigos (nós todos) transformassem o lugar em um espaço para pequenos shows
das bandas da cidade. Todo material e mão de obra seria fornecido pelo pessoal
das bandas e amigos, a dona do bar não gastaria e nem faria nada. Em troca ela
teria um movimento muito bom de venda de bebidas e tira gostos nas noites de
shows.
Ela relutou um pouco, afinal o ponto era alugado e o proprietário deveria ser consultado e tudo mais. Na conversa, Aluízio conseguiu convencer Beta de que não era preciso comunicar nada ao dono do lugar, afinal de contas nada seria mexido e o que seria feito era apenas uma reforma para melhor numa parte do lugar que não estava servindo pra nada, além de juntar poeira, ratos e umidade.
Assim, Beta permitiu que fosse sido feita a tal reforma no lugar. Aluízio convocou alguns amigos para ampliar a porta que dava acesso à parte elevada ao fundo, com a intenção de fazer ali o pequeno palco do ambiente. Então, às marretadas foi feito um tipo de arco, que começava no piso do elevado, de ponta a ponta. Com isso as bandas teriam maior visibilidade do público que fosse aos shows futuros.
Ela relutou um pouco, afinal o ponto era alugado e o proprietário deveria ser consultado e tudo mais. Na conversa, Aluízio conseguiu convencer Beta de que não era preciso comunicar nada ao dono do lugar, afinal de contas nada seria mexido e o que seria feito era apenas uma reforma para melhor numa parte do lugar que não estava servindo pra nada, além de juntar poeira, ratos e umidade.
Assim, Beta permitiu que fosse sido feita a tal reforma no lugar. Aluízio convocou alguns amigos para ampliar a porta que dava acesso à parte elevada ao fundo, com a intenção de fazer ali o pequeno palco do ambiente. Então, às marretadas foi feito um tipo de arco, que começava no piso do elevado, de ponta a ponta. Com isso as bandas teriam maior visibilidade do público que fosse aos shows futuros.
Alguns
dias foram gastos para a reforma. Um ponto de luz foi puxado até o palco, e lá
espalhado para dois cantos atrás da parede onde fora aberto o arco, para
ali serem colocadas um sistema de iluminação do mais simplório e amador
possível, composto por quatro latas de leite em pó, com bocais e lâmpadas, nas
bocas das latas colocaram papel celofane colorido, cada lata com uma cor
(amarelo, vermelho, azul). Ao fundo mais um ponto de energia para que
fosse ligada uma lâmpada fluorescente no chão, bem ao canto. O pensamento era o
de fazer um pequeno sobre-palco para a bateria, e esta lâmpada iluminar o
instrumento e o baterista de trás e de baixo pra cima e frente, dando um efeito
interessante ao palco. As latas de leite em pó foram fixadas em pequenas ripas
de madeira e estas pregadas na parede por dentro. Os fios que delas saiam
seguiam até um painel com quatro interruptores, um para cada lata.
Na parte do salão não fora colocado nenhum ponto de luz, pois não havia como fazê-lo, o teto era de concreto puro, uma vez que em cima funcionava uma oficina na rua de traz, rua Arrojado Lisboa. O que os amigos que trabalharam na criação deste pequeno lugar pra shows fizeram nesta parte destinada ao público, foi pichar com spray preto alguns nomes de bandas de Metal e Punk nas paredes brancas, assim dando mais um toque rústico e underground ao lugar. Nomes como: Destruction, Slayer, Voivod, GHB, Kreator, Sepultura, Sarcófago, Metallica, e mais os nomes das bandas locais e da região.
Voltando ao palco, alguém trouxe de casa, não recordo quem, um tecido vermelho com uns três metros de comprimento e dois de largura. Este tecido foi pendurado na parede atrás de onde ficaria a bateria. Na sua parte interior instalaram uma lâmpada fluorescente de uns 200 Watts, o restante do pano vermelho cobria a lâmpada, e quando a mesma era acesa, dava uma tonalidade vermelha no fundo do pequeno palco, conforme haviam imaginado o grupo de visionários amigos.
O sobre-palco para a bateria foi colocado à frente do tecido, que era chamado de "cortina vermelha". Não me recordo a quem pertencia a bateria em si, mas ela foi levada por completo ao local e montada em caráter definitivo, para que todos pudessem usar.
Com o término das reformas no
local, não tardou para que as bandas envolvidas na ação começassem a utilizar o
local para seus ensaios durante os dias da semana, mesmo com o bar aberto. O
que também fora marcado de imediato foi a inauguração do novo ambiente para
apresentações, o “Calabouço”, ou apenas Bar da Beta. E na noite de 03 de
novembro de 1990 aconteceu a primeira apresentação no lugar. O cartaz fora
confeccionado pelo próprio Aluízio, e contou com as bandas locais Diarrhea,
C.U.S.P.E. e Krueger. Foi uma invasão de pessoas curtidoras de música extrema
de todos os bairros da cidade de Campina Grande. O lugar destinado para as
apresentações ficou lotado, a venda no balcão do bar foi total. Como a própria
Beta afirmou, “vendi tudo! Não tinha mais nada pra vender mesmo antes do meio
dos shows dos meninos! Compraram tudo, cerveja, cachaça, rum, conhaque e tudo o
que tinha de tira gostos! Acho que não me preparei bem pra receber esse povo!”.
Outro fato inusitado foi a queda do baterista Alessandro Barros, Krueger, do
banco da bateria durante a execução de uma de suas canções. O que gerou uma
parada da música, uma curiosidade por parte do restante da banda e de quem se
apertava à frente do palco, depois todos caíram na gargalhada, e o som seguiu.
Com o sucesso da primeira noite,
Beta animou e topou seguir com os eventos em seu estabelecimento. Daí pra
frente praticamente todo final de semana rolou alguma gig com bandas locais e
até de cidades vizinhas, como na noite de 1º de dezembro de 1990, em que se
apresentaram bandas de Recife (Devotos do Ódio e Realidade Encoberta) e Caruaru
(Psychic Acid), além de uma local (Mortífera). Este foi, sem dúvida, o fest com
maior aglomeração de pessoas. Até um
leão de chácara fora improvisado para tentar organizar a entrada e saída tanto
de público, como das bandas. E o escolhido e até por livre e espontânea
vontade, oferecido, fora o recifense Jorge Bulldog, que havia viajado junto com
os grupos Realidade Encoberta e Devotos do Ódio. O ambiente onde haviam as
apresentações e a aglomeração do público era cheio e esvaziado a cada apresentação,
para que a banda pudesse sair do palco e pudesse guardas seus instrumentos e
demais equipamentos em algum lugar, pois o palco era tão pequeno que não havia
como deixar ali este material das bandas. Outro motivo que fora obrigatória a
saída de todo o público entre os sets de cada banda era o calor insuportável
que ali reinava durante cada banda. Era preciso deixar ventilar um pouco até a
entrada da próxima banda da noite e do público, que também se revezava, uma vez
que havia tanta gente no lugar e o mini salão de apresentações era tão pequeno,
que as pessoas foram obrigas a escolher a que bandas assistir naquele evento.
Vale lembrar que todas as
pessoas, bandas e público, de Recife, se deslocaram de sua cidade natal até
Campina Grande dentro do baú de um caminhão Mercedes Bens. Outro detalhe, e até
chato desta vez, foi a insatisfação por parte dos membros da banda Devotos do
Ódio com as pessoas locais, com o ambiente dos shows e tudo mais, o que gerou
comentários negativos de quem havia comparecido para vê-los em especial. Mas,
como o Bar da Beta já havia virado, tão rapidamente, um ponto de encontros das
pessoas do meio Metal, Hard Core e Punk de Campina Grande (ou apenas, a Galera
de CxGx), este assunto logo fora contornado por todos e as bebedeiras,
conversas e tudo mais voltaram à normalidade e a referida banda recifense se
isolou e fora isolada pelos presentes, devido justamente ao seu “azedume”.
Mesmo com toda badalação da
novidade na cidade e até da região, o Bar da Beta não durou muito como ponto
para estas apresentações e encontros destas pessoas, que eram na realidade
todos amigos e conhecidos, mesmo os de cidades distintas. O proprietário do local
solicitou a saída da Beta e seu bar dali, visando uma reforma. Este evento de
1º de dezembro de 90 fora, curiosamente, o último. Pois no dia seguinte,
domingo houve a retirada dos pertences tanto da Beta, quanto das bandas
envolvidas no projeto, e na segunda feira seguinte o teto onde ficara o bar,
com seu balcão, mesas, cadeiras, freezers e tudo mais, desabou devido ao estado
deplorável das madeiras que sustentavam as telhas.
Até a data da edição e postagem
deste texto o local segue abandonado, como ficou em 90. O que nos resta são as
lembranças de toda esta aventura de força de vontade de fazer e acontecer.
Foram tantas conversas, risadas, articulações, amizades feitas e outras
firmadas naquele lugar, mesmo em tão pouco tempo, que o Calabouço, ou o Bar da
Beta vive nas mentes de todos que por ali passaram, e o que faltava era um
relado, como este, para deixar registrado a sua existência no contexto do
Movimento Underground e da Galera de CxGx.
Nos dias atuais:
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