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sábado, 24 de setembro de 2011

O Hardcore e a Luta de Classes


* Por Pedrão

“Essa música é pra incomodar, é a verdade agonizando em mais um grito...”

Rótulo – Cerúmen – Hardcore Nordestino

O movimento punk se iniciou a passos firmes na década de 70. Não por motivos espontâneos, mas por condições materiais daqueles que impulsionaram a história do movimento. A década de 70 foi marcado pela crise da chamada “Era de ouro” ou a crise do petróleo. Tal crise, colocou para os poderosos a necessidade de reconfigurar o sistema capitalista e cortar gastos nas políticas sociais para “salvar” o sistema e garantir o status quo da classe dominante. É evidente, que em momentos de crise é a classe trabalhadora que sofre as piores consequências. Sofrem mais ainda, os filhos e filhas desta classe, a juventude desempregada.

Sem empregos, com condições precárias de vida e sem perspectiva, essa juventude enxerga no movimento punk a ferramenta para gritar as contradições, o ódio pela cultura dominante e o conservadorismo dos bons-costumes. É então, como ferramenta da juventude desempregada, rebelde e movida por ideais libertários, que bandas de punk surgem contestando a ordem, os costumes, os valores burgueses e a imagem do bom-mocismo, em contrapartida imanava letras politizadas, postura rebelde dos subúrbios e periferias, representando, em muitos momentos, a voz daqueles que historicamente foram excluídos desse sistema opressor.

O estilo punk passou, no decorrer da história, por diversas transformações impulsionando o surgimento de outras vertentes como o hardcore, pós-punk, indie, new wave, etc. O Hardcore foi um dos principais estilos que reafirmou a necessidade urgente de denunciar as contradições da sociedade capitalista. Com batidas rápidas, guitarras frenéticas e vocais agressivos, o Hardcore firma-se de maneira a prenunciar os intensos ataques do sistema contra a juventude.

Porém o nosso inimigo, o sistema capitalista, não ficou parado. Intensificou ainda mais os ataques à juventude, principalmente a partir do final da década de 80. A indústria cultural foi sua arma principal na tentativa de despolitizar os jovens, criando formas prontas de bandas e de estilos musicais que tinham e tem como objetivo principal o esvaziamento da consciência e o alimento do corpo. Ou seja, foi nesse momento histórico onde diversas bandas surgiram carregando uma postura, uma tipo de roupa, um tipo de tênis e um tipo de ideia que visava o consumo desenfreado e a falsa ideologia rebelde. Falsa porque, a rebeldia era vendida aos jovens pela indústria cultural e pela cultura de massa e se baseava na compra de produtos. Aqueles que em outrora eram jovens rebeldes por condições materiais, por falta de emprego, por falta de perspectiva, por exclusão, por falta de dinheiro e por indignação às injustiças sociais, tornaram-se jovens “rebeldes” pelo novo penteado, pelo tênis colorido e pela calça de marca que, apesar de ser novinha, já vem rasgada de fábrica.

Da década de 90 aos tempos de hoje, essa cultura despolitizadora do hardcore e do rock em geral, tomou proporções gigantescas. O que podemos observar é o surgimento, em segundos, de bandas como Nx Zero, Strike, Emo, e suas reproduções falidas. Não só isso, uma postura vazia se incrustou na mente da juventude que, supervaloriza a estética em detrimento de qualquer outra coisa.

Porém onde há opressão, há resistência. Há pessoas que percebem tudo isso e fazem o contrário, nadam contra a corrente. Criam bandas, criam espaços, festivais que estão calcados na resistência do hardcore e na necessidade de reafirmar a capacidade da juventude de pensar o mundo para transformá-lo. Esta é a nossa tarefa enquanto juventude, “ocupar, resistir e produzir”. Nós, enquanto músicos, punks, fanzineiros, produtores, admiradores, mosheiros, temos que fortalecer nossa luta contra o nosso inimigo. O inimigo está aí, e é ele que temos que derrotá-lo.

* Pedrão é vocalista da banda de hardcore sergipana Rótulo.

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